Eu preciso contar uma história para vocês

Escrever um livro é difícil. E, eu já estou no oitavo! Não tinha percebido até ontem. Vê se pode? Quantas coisas incríveis fazemos todos os dias, mas deixamos de notar só porque já virou costume?

O livro novo veio sorrateiro, enveredando aos poucos como aquelas plantinhas que não botamos muita fé, mas, é forte e cresce para todos os lados. Quando me dei conta, a ideia já estava lá, tão pronta à minha espera que eu não tive outra escolha a não ser ouvir o chamado da Floresta de Corvina.

Não sei se você lembra ou sabe, mas dizem que a Floresta de Corvina canta a noite; canta e mata homens desavidados…

 

Reviravoltas na trama e na vida real

Laços começou como uma releitura da Rapunzel que cresceu tanto até se tornar a própria história. Do conto de fadas, ficou somente os longos cabelos da personagem e uma torre que guarda, não uma donzela em perigo, mas uma vampira.

Por muito tempo, achei que a protagonista de Laços fosse a vampira Lívia, aprisionada por magia numa torre. Acontece que anos depois, descobri, assim, de repente, que a protagonista sempre foi a bruxa!!!

Brianna é quem faz e acontece. Brianna é o ponto de conexão de todas as tramas. Sem ela, a história não andaria, nem teria começado. Teria acabado no momento em que o príncipe nasceu quase morto. Enfim… Brianna é complexa, dual, faz merda tentando acertar e é a protagonista da série Laços de Sangue. 

 

Laços agora é uma série chamada Laços de Sangue

Após a publicação de Laços em 2016, eu achei que minha jornada com Brianna, Lívia e a Floresta de Corvina tivesse terminado. Mas, eu estava enganada.

Em 2019, surgiu a vontade de contar mais histórias vindas desse lugar, dessas personagens. Assim, criei o projeto “31 minicontos de bruxas e vampiros”, no qual, nos 31 dias de outubro, publiquei online 1 miniconto por dia, todos ambientados no universo de Laços. Que saudade estava dos personagens! Eles ficaram felizes com o reencontro também, me contaram coisas que antes estavam em segredo. Foi nesse momento que eu percebi que ainda tinha muita história para contar. 

 

Como Laços São Feitos

Depois do experimento com os minicontos, ficou em mim a vontade de continuar com o projeto, mas outubro já tinha acabado. Laços era uma história só… Foi então que me dei conta, assumi para mim mesma que queria continuar, não tinha jeito; decidi que faria de Laços uma série de livros. Comecei do começo, na verdade, muito antes disso. Como Laços São Feitos se passa antes dos acontecimentos de Laços. 

A sinopse:

“Se havia aprendido uma coisa na vida, era que se colhia aquilo que plantava.”
Durante os festejos de Samhain, a bruxa Brianna se oculta na multidão para garantir que o plano traçado há anos siga seu curso. Uma promessa feita de sangue e vingança numa noite fria, exatamente como aquela, por ela e a rainha de Corvina.
Enquanto isso, o atual rei, um déspota que, em segredo e despeito, ordenou uma caça às bruxas durante os festejos, não tem noção do mal que despertará numa noite que tinha tudo para ser sagrada, mas se torna maldita.

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Um trecho bem servido para vocês:

1. Samhain
Noite do Equinócio de Outono

Brianna andava a passos lentos pelo caminho de cascalho que interligava o Bosque à Praça Central da Vila da Águia, no Reino de Corvina. A ventania daquela noite sem lua levantava do solo as folhas mortas da estação, os sons secos e estalos de cada pisada da bruxa soavam como se caminhasse sobre ossos frágeis.

Havia algo estranho no ar. Apesar de não conseguir identificar o que era, os instintos da bruxa a alertavam para que tomasse cuidado redobrado aquela noite.
Talvez, só talvez, estivesse em estado de hiperalerta por estar no meio daqueles que, sem pestanejar, a colocariam numa fogueira. Só isso…

Brianna continuou seu caminho. Naquela noite, tinha um encontro marcado com um fantasma do passado. Infelizmente, ele era de carne e osso e pertencia a um lugar e tempo em sua história que ela preferia esquecer.

Quando chegou na praça lotada, verificou se o capuz estava no lugar, o rosto coberto, com nenhum cacho dourado escapando e, por fim, ocultou-se na multidão. Todos os tipos de pessoas se reuniam na praça decorada por frutas e legumes da estação. Também havia propositalmente símbolos pintados nas paredes, amuletos pendurados nas janelas e lanternas de abóboras com carrancas esculpidas nas portas das casas para afastar os maus espíritos, o que Brianna achava bobo, mas fofo. Uma fogueira no centro da praça aquecia e iluminava todos os presentes naquela noite de lua nova. Muitas barracas com tortas, pães, bolos, compotas de geleia e todo tipo de comidas com aromas deliciosos, graças ao início da época de colheita. Os camponeses ainda teriam muitos dias de trabalho árduo pela frente, mas aquela noite festejavam os presentes que a terra lhes dera durante o verão.

Havia também uma parcela menor e mais discreta que ainda seguia os costumes antigos, rezando para os entes queridos já falecidos. Acreditavam que, na noite de Samhain, o véu entre os dois mundos se encontrava mais fino, portanto, propício à comunicação com o outro lado. Estavam certos. Era mesmo uma noite especial, com muita atividade acontecendo ao mesmo tempo.

Uma pena terem de se esconder, tal como ela fazia agora, misturando-se aos demais. Proibidos de expressarem sua verdadeira fé, devotos de outras religiões se viram obrigados a criar historinhas bobas, sincretizar costumes antigos aos vigentes para burlar o sistema e não serem jogados numa fogueira como aquela que crepitava, inocente, no meio da praça, mas que podia ser usada — e isso não era algo tão incomum — como ferramenta de tortura de gente como ela, conhecedora dos mistérios e que sabia manipular energia para transformar em magia. Uma bruxa.

Brianna tinha ódio profundo do rei e de sua corja, os próprios representantes do inferno que eles mesmos criaram. Mas, se havia aprendido uma coisa na vida, era que se colhia aquilo que plantava. Samhain era isso, afinal de contas. O deles, certamente lhes estava destinado.

 

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